quinta-feira, 16 de junho de 2016

Quando dois mundos se encontram




A gente gosta de conversa que flui, que seduz e não reduz a vontade de falar. A gente aprecia a prosa que lança os assuntos sem deixar o pensamento no mudo. A fala que empolga, que faz rir, pensar, relembrar e até mesmo chorar.
Mas quando o papo não dá caldo, a gente tem vontade de fugir. Quando a sintonia não rola, não há pressão que faça colar o que não tem nem como rimar. Não adianta forçar o que precisa ser natural. 
É só com o ritmo certo que a gente tem vontade de trazer o outro para perto para mais conversas, intercalando dois mundos diferentes. Costurando novas histórias e impressões, provocando um terceiro mundo que começa a ser construído a dois.

Meire Oliveira


O aconchego de uma boa conversa provoca uma revolução na ante sala da zona de conforto, porque instiga, evolui e flui ao encontro de nossas ideias, nossos sonhos, nossas histórias, muitas vezes ali o futuro começa a ser parido...
Os pensares divergentes podem ser pequenas lanças a trazer luz ao nosso porão de ideias empoeiradas, banidas deste mundo atual, processadas e abandonadas. Mas esse encontro de pensamentos podem tirar os véus que falsamente protegiam nossas opiniões. No outro pode existir o eco que reverbera nossos secretos mundos, e essa dança faz balançar os conceitos mais arraigados que podemos ter. Uma boa conversa desfila ideias que enfeitam nossos mundos que se cruzam - ainda que só naquele momento.
Denise Araujo

Você também dá plantão dos seus problemas??



Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu dou plantão dos meus problemas
Que eu quero esquecer

Enquanto ouço a canção, fico presa nessa estrofe, que descreve tão bem o que fazemos conosco mesmos... 
Quando nos encontramos em situação de dor, conflito, desamparo, desalento, a tristeza nos toma e verte de nossas emoções mais profundas, contaminando os nossos recursos internos de enfrentar, resolver, apaziguar. Somos capazes de mudar essa frequência pesada, destrutiva, mas não, "damos plantão dos problemas que queremos esquecer." 
Por que fazemos isso conosco, se os queremos esquecer?! Repassamos tantas vezes os problemas que os sabemos de cor!!! Existem maneiras de sair desse círculo vicioso, libertarmos-nos dessa agonia que mata de forma lenta todo o potencial que temos para solucionar, nos desfazer deles, no mínimo, minimiza-los. Aprendemos com algum modelo que copiamos? Temos a crença de que para termos sucesso antes precisamos escalar (e vencer!) a torre de adversidades? Qual evento vai nos resgatar dessa prisão? Quem, além, de nós mesmo?

Denise Araujo


Talvez a injustiça do mundo, a qual a música se refere, seja um reflexo da injustiça que a gente mesmo faz quando trazemos para perto os problemas que queremos esquecer. Se por vezes buscamos ser feliz e atrair mais momentos de felicidade, ainda assim, outras podemos estar remoendo os obstáculos como se eles fossem nos afogar no nosso próprio drama. Corroemos nosso interior, e ainda colocamos uma lupa que vai aumentando e fazendo esse problema crescer. Por vezes até sem perceber que o problema é exatamente esse: não desgrudar do problema. Afinal o que enfrentamos tem a dimensão que escolhemos dar e a atenção também. 
Na hora certa e na medida certa do que nos cabe escolher, que tenhamos a clareza exata para não obscurecer o que nos faz bem e colocar os holofotes apenas no que não nos acrescenta.

Meire Oliveira